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Desafios Globais e a IA: Soluções Inspiradas em Missões

Por Diogo Ferreira





1. Introdução


Em um mundo cada vez mais complexo e interconectado, enfrentamos desafios globais que exigem abordagens inovadoras e colaborativas. A inteligência artificial (IA), uma das tecnologias mais transformadoras de nossa era, oferece um potencial sem precedentes para enfrentar esses desafios. Simultaneamente, o conceito de políticas orientadas por missões, popularizado por Mariana Mazzucato em "Missão Economia", propõe uma nova estrutura para mobilizar recursos e coordenar esforços em torno de objetivos ambiciosos e claramente definidos.


Este artigo explora a intersecção entre a abordagem orientada por missões e o potencial transformador da IA na resolução de desafios globais. Baseando-se não apenas no trabalho de Mazzucato, mas também em uma ampla gama de pesquisas em políticas de inovação e IA, examinaremos como essa sinergia pode catalisar soluções inovadoras em áreas críticas como saúde, educação e sustentabilidade ambiental.


Ao longo do artigo, apresentaremos estudos de caso detalhados e dados empíricos de diversas regiões do mundo, incluindo países em desenvolvimento, para ilustrar o impacto potencial e real da IA quando aplicada através de uma abordagem orientada por missões. Abordaremos também os desafios éticos e práticos associados à implementação em larga escala de soluções baseadas em IA, incluindo questões de privacidade, segurança de dados, equidade e impacto no mercado de trabalho.


Por fim, apresento recomendações concretas de políticas e um roteiro de ação para diferentes stakeholders - governos, setor privado, academia e sociedade civil - visando maximizar os benefícios da IA enquanto os riscos potenciais são mitigados.


2. O Papel da IA em Soluções Globais

2.1 Potencial Transformador da IA


A Inteligência Artificial (IA) tem emergido como uma tecnologia transformadora com o potencial de revolucionar diversos setores e abordar desafios globais complexos. Seu impacto é sentido em escala global, tanto em economias desenvolvidas quanto em desenvolvimento.


Saúde


No setor de saúde, a IA está melhorando diagnósticos, acelerando a descoberta de medicamentos e otimizando sistemas de saúde. Por exemplo, um estudo publicado na revista Nature (2019) demonstrou que um algoritmo de IA foi capaz de detectar câncer de mama em mamografias com uma precisão comparável à de radiologistas experientes, reduzindo a taxa de falsos positivos em 5,7% nos EUA e 1,2% no Reino Unido. Em países em desenvolvimento, onde há escassez de profissionais de saúde, a IA está preenchendo lacunas críticas. No Ruanda, por exemplo, a empresa Babylon Health implementou um sistema de triagem baseado em IA que atendeu mais de 2 milhões de consultas em 2020, melhorando significativamente o acesso aos cuidados de saúde em áreas rurais (UNECA, 2021).


Educação


Na educação, a IA está possibilitando a aprendizagem personalizada e expandindo o acesso à educação de qualidade. A plataforma Century Tech, utilizada em mais de 25 países, relatou um aumento médio de 30% no desempenho dos alunos após a implementação de seu sistema de tutoria baseado em IA (Century Tech, 2022). Em países como a Índia, iniciativas como o projeto BYJU's têm utilizado IA para fornecer educação personalizada a mais de 100 milhões de estudantes, com 85% dos usuários relatando melhoria no desempenho acadêmico (BYJU's Annual Report, 2021).


Sustentabilidade Ambiental


Na frente ambiental, a IA está sendo empregada para combater as mudanças climáticas, otimizar o uso de recursos e proteger a biodiversidade. Um estudo do PwC (2021) estima que a aplicação de IA em soluções ambientais poderia contribuir para uma redução de até 4% nas emissões globais de gases de efeito estufa até 2030, equivalente a 2,4 gigatoneladas de CO2e. Na Indonésia, um sistema de IA desenvolvido pela Conservation International para monitorar o desmatamento aumentou a precisão da detecção em 25%, permitindo intervenções mais rápidas e eficazes (Conservation International, 2022).


2.2 Desafios na Implementação


Apesar de seu potencial transformador, a implementação da IA em escala global enfrenta desafios significativos:


Infraestrutura e Recursos


Muitos países em desenvolvimento carecem da infraestrutura digital necessária para implementar soluções de IA em larga escala. Segundo o Banco Mundial (2021), apenas 35% da população nos países menos desenvolvidos tem acesso à internet, em comparação com 87% nos países desenvolvidos. Além disso, há uma escassez global de profissionais qualificados em IA. Um relatório da IBM (2021) indica que 39% das empresas globais enfrentam dificuldades para recrutar talentos em IA.


Qualidade e Disponibilidade de Dados


A eficácia dos sistemas de IA depende fortemente da qualidade e quantidade dos dados disponíveis. Em muitos países em desenvolvimento, há uma falta de dados confiáveis e atualizados. Um estudo da UNECA (2020) mostrou que apenas 22 países africanos têm dados estatísticos atualizados nos últimos cinco anos, dificultando o treinamento de modelos de IA relevantes para contextos locais.


Viés e Equidade


Existe um risco significativo de que os sistemas de IA perpetuem ou até amplifiquem preconceitos existentes. Um estudo do MIT Media Lab (2018) descobriu que sistemas de reconhecimento facial têm taxas de erro de até 34% para mulheres de pele escura, em comparação com 0,8% para homens de pele clara. Garantir que os benefícios da IA sejam distribuídos equitativamente entre diferentes grupos demográficos e regiões geográficas permanece um desafio crítico.


2.3 Marcos Regulatórios Existentes e Propostos


À medida que a inteligência artificial (IA) se torna mais prevalente, governos e organizações internacionais estão desenvolvendo marcos regulatórios para garantir seu uso ético e responsável:


União Europeia: A União Europeia continua na vanguarda da regulamentação de IA com a proposta atualizada da Lei de IA (2024). Esta estrutura abrangente classifica aplicações de IA em diferentes níveis de risco e impõe obrigações correspondentes, incluindo avaliações de impacto obrigatórias para sistemas de IA de alto risco. A versão mais recente introduz medidas adicionais para fortalecer a transparência e a responsabilidade dos desenvolvedores de IA.


Estados Unidos: Nos Estados Unidos, a abordagem tem sido mais setorial e específica. Em 2024, a Food and Drug Administration (FDA) revisou e expandiu seu plano de ação para IA/ML em dispositivos médicos, estabelecendo um quadro regulatório mais detalhado para a aprovação e monitoramento de dispositivos médicos baseados em IA. A Federal Trade Commission (FTC) também lançou diretrizes em 2024 para regular o uso de IA em práticas comerciais, focando em transparência e proteção ao consumidor.


China: O governo chinês continua a fortalecer suas diretrizes éticas para IA. Em 2024, a China atualizou os "Princípios de Governança de IA da Nova Geração", enfatizando ainda mais o respeito pelos direitos humanos, a proteção da privacidade e a promoção do desenvolvimento sustentável. Essas diretrizes refletem um compromisso contínuo com a regulamentação rigorosa e o desenvolvimento ético da IA.


Organizações Internacionais: A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revisou seus Princípios sobre IA em 2023, fornecendo recomendações atualizadas para o desenvolvimento responsável de IA, com um foco maior em sustentabilidade e equidade. A UNESCO, em 2023, lançou uma segunda edição da Recomendação sobre a Ética da IA, reforçando a importância de princípios éticos globais e introduzindo novas diretrizes sobre a transparência e a responsabilidade na IA.


Países em Desenvolvimento: Vários países em desenvolvimento estão avançando rapidamente no desenvolvimento de suas próprias estruturas regulatórias para IA. Em 2024, a Índia publicou uma versão atualizada de sua "National Strategy for Artificial Intelligence", que inclui novas iniciativas para inclusão digital e desenvolvimento sustentável. Países como Brasil e África do Sul também estão formulando políticas nacionais de IA, focando na maximização dos benefícios socioeconômicos e na mitigação dos riscos associados.


Apesar desses avanços, ainda há uma necessidade significativa de harmonização global das regulamentações de IA para garantir uma abordagem coerente e eficaz aos desafios éticos e práticos apresentados por esta tecnologia transformadora. A cooperação internacional e o diálogo contínuo entre reguladores são essenciais para criar um ambiente regulatório que promova a inovação responsável e a proteção dos direitos humanos.


3. Conectando Missões e IA


3.1 Definição de missões claras e mensuráveis


A abordagem orientada por missões, conforme proposta por Mariana Mazzucato, enfatiza a importância de definir objetivos claros, ambiciosos e mensuráveis para enfrentar os grandes desafios da sociedade. Quando combinada com o potencial transformador da IA, essa abordagem pode catalisar inovações significativas e impacto social em larga escala.


Para serem eficazes, as missões devem ser:


  1. Ousadas e inspiradoras, com relevância social ampla

  2. Direcionadas, com objetivos mensuráveis e prazos definidos

  3. Ambiciosas, mas realistas, baseadas em pesquisa e inovação

  4. Interdisciplinares, intersetoriais e com múltiplos atores

  5. Abertas a múltiplas soluções de baixo para cima


Um exemplo de missão bem-sucedida que incorporou IA é o projeto "AI for Earth" da Microsoft, lançado em 2017 com o objetivo de aplicar IA para resolver desafios globais em quatro áreas: agricultura, água, biodiversidade e mudanças climáticas. Até 2020, o projeto havia concedido mais de 700 subsídios em 97 países, demonstrando o potencial de uma missão clara para mobilizar recursos e inovação globalmente (MICROSOFT, 2021).


3.2 Alinhamento de incentivos entre stakeholders


O sucesso das missões orientadas por IA depende do alinhamento eficaz de incentivos entre diversos stakeholders, incluindo governos, setor privado, academia e sociedade civil. Este alinhamento pode ser alcançado através de:


  1. Políticas públicas que incentivem a colaboração e a inovação

  2. Financiamento misto que combine recursos públicos e privados

  3. Plataformas de compartilhamento de dados e conhecimento

  4. Estruturas de governança inclusivas que envolvam múltiplos atores


O programa "AI Singapore", lançado em 2017, é um exemplo de alinhamento bem-sucedido de incentivos. Esta iniciativa nacional reúne instituições de pesquisa, indústria e governo para desenvolver o ecossistema de IA do país. O programa já resultou em mais de 200 projetos de IA aplicada e treinou mais de 20.000 profissionais, demonstrando como o alinhamento de incentivos pode acelerar a adoção e o desenvolvimento de IA (AI SINGAPORE, 2022).


3.3 Exemplos de missões globais potenciais utilizando IA


Considerando os desafios globais atuais e o potencial da IA, podemos propor algumas missões ambiciosas:


  1. Erradicação da malária até 2040 usando IA

  • Objetivo: Reduzir a incidência de malária em 75% até 2030 e erradicá-la completamente até 2040

  • Abordagem: Utilizar IA para otimizar estratégias de controle de vetores, prever surtos e personalizar tratamentos

  • Exemplo: O projeto "AI Against Malaria" da Universidade de Oxford já demonstrou que modelos de IA podem prever surtos de malária com 88% de precisão, até três meses de antecedência (UNIVERSITY OF OXFORD, 2023)

  1. Educação personalizada e acessível para todos até 2035

  • Objetivo: Proporcionar acesso a educação personalizada e de alta qualidade para 90% das crianças globalmente até 2035

  • Abordagem: Desenvolver sistemas de tutoria de IA adaptáveis a diferentes contextos culturais e linguísticos

  • Exemplo: O projeto "Global Learning XPRIZE" demonstrou que crianças usando aplicativos de aprendizagem baseados em IA alcançaram níveis de alfabetização comparáveis aos de escolas tradicionais em apenas 15 meses (XPRIZE, 2019)

  1. Cidades neutras em carbono até 2050

  • Objetivo: Transformar 100 grandes cidades em neutras em carbono até 2050

  • Abordagem: Utilizar IA para otimizar sistemas de energia, transporte e gerenciamento de resíduos

  • Exemplo: A cidade de Copenhague, em parceria com a Google, está usando IA para otimizar o tráfego e reduzir as emissões de carbono. Estimativas iniciais sugerem uma redução potencial de 5-10% nas emissões relacionadas ao transporte (CIDADE DE COPENHAGUE, 2022)


Estas missões ilustram como a IA pode ser aplicada a desafios globais complexos de maneira mensurável e orientada para resultados. Ao definir objetivos claros e alinhar incentivos entre stakeholders, podemos maximizar o impacto da IA na resolução de problemas críticos da humanidade.


4. Desafios Éticos e Considerações na Missão com IA


4.1 Privacidade e Segurança de Dados


A inteligência artificial (IA) depende de grandes volumes de dados para funcionar de maneira eficaz, o que levanta preocupações significativas sobre privacidade e segurança. A coleta, armazenamento e uso de dados pessoais sensíveis exigem regulamentações rigorosas para proteger os indivíduos contra o uso indevido e vazamentos de informações. Políticas públicas robustas são essenciais para garantir que os dados sejam tratados de maneira ética e segura. Governos devem implementar regulamentações claras e exigir que as empresas adotem medidas avançadas de segurança cibernética, como a criptografia e a anonimização de dados. Além disso, é crucial promover a conscientização sobre a privacidade de dados entre os cidadãos.


4.2 Viés Algorítmico e Justiça


Os algoritmos de IA são treinados em grandes conjuntos de dados, que muitas vezes refletem os preconceitos e desigualdades existentes na sociedade. Isso pode resultar em decisões enviesadas que perpetuam ou até amplificam a discriminação. Por exemplo, sistemas de IA usados em processos de recrutamento podem favorecer certos grupos demográficos em detrimento de outros. Para mitigar esses riscos, é necessário desenvolver algoritmos que sejam transparentes e auditáveis, permitindo a identificação e correção de vieses. Além disso, a diversidade nos dados de treinamento e nas equipes que desenvolvem essas tecnologias é fundamental para garantir que as soluções de IA sejam justas e inclusivas.


4.3 Transparência e Explicabilidade dos Sistemas de IA


A complexidade dos sistemas de IA muitas vezes torna difícil entender como as decisões são tomadas, o que levanta questões sobre transparência e responsabilidade. A falta de explicabilidade pode minar a confiança dos usuários e dificultar a identificação de erros ou vieses nos sistemas. Para enfrentar esse desafio, é essencial que os desenvolvedores de IA criem algoritmos que possam ser explicados de maneira compreensível para os usuários finais. Isso inclui fornecer informações claras sobre os dados utilizados, os processos de tomada de decisão e as possíveis limitações dos sistemas de IA. Políticas públicas que incentivem a transparência e a explicabilidade podem ajudar a garantir que a IA seja usada de maneira ética e responsável.


4.4 Impacto no Mercado de Trabalho e Desigualdade Econômica


A automação impulsionada pela IA tem o potencial de transformar o mercado de trabalho, substituindo muitos empregos tradicionais por funções automatizadas. Embora isso possa levar a ganhos de eficiência e produtividade, também pode resultar em perda de empregos para trabalhadores em setores vulneráveis. Para mitigar os efeitos negativos, é crucial investir em programas de requalificação e capacitação profissional que preparem a força de trabalho para novas oportunidades na economia digital. Políticas que promovam a criação de empregos de alta qualidade e a redistribuição equitativa dos benefícios econômicos da IA são essenciais para evitar o aumento das desigualdades econômicas.


4.5 Divisão Digital Global


A divisão digital global refere-se à disparidade no acesso à tecnologia e à internet entre diferentes regiões e grupos sociais. Esta divisão pode ser exacerbada pelo desenvolvimento e implementação da IA, que exige infraestrutura tecnológica avançada e habilidades digitais específicas. Países em desenvolvimento e comunidades desfavorecidas correm o risco de ficar para trás na revolução digital, ampliando as desigualdades existentes. Para enfrentar este desafio, é necessário implementar políticas que promovam a inclusão digital, fornecendo acesso à tecnologia, treinamento em habilidades digitais e infraestrutura de internet em áreas carentes. A colaboração internacional também é fundamental para garantir que os benefícios da IA sejam amplamente distribuídos e que todos tenham a oportunidade de participar da economia digital.


5. Recomendações de Políticas


Para que a inteligência artificial (IA) seja utilizada de maneira eficaz e ética na resolução de desafios globais, é necessário que governos, setor privado, academia e sociedade civil tomem medidas concretas e coordenadas. Os governos devem liderar a criação de políticas públicas que incentivem a pesquisa e o desenvolvimento de IA, focando na resolução de desafios globais. Isso inclui fornecer financiamento adequado para projetos de IA que tenham um impacto social positivo e estabelecer regulamentações claras e rigorosas sobre a coleta, armazenamento e uso de dados pessoais para proteger a privacidade e garantir a segurança dos dados. É fundamental implementar programas de educação e requalificação profissional para preparar a força de trabalho para a economia digital, bem como criar iniciativas que garantam acesso universal à tecnologia e à internet, especialmente em regiões desfavorecidas, investindo em infraestrutura tecnológica e fornecendo treinamento em habilidades digitais.


O setor privado, por sua vez, deve adotar práticas de transparência e responsabilidade ética no desenvolvimento e implementação de algoritmos de IA, garantindo que sejam transparentes e auditáveis, permitindo a identificação e correção de vieses. As empresas devem formar parcerias público-privadas para acelerar a pesquisa e o desenvolvimento de soluções baseadas em IA que abordem desafios sociais e econômicos, promovendo a diversidade e inclusão nas equipes que desenvolvem essas tecnologias. Também é crucial desenvolver programas internos de requalificação e treinamento para preparar os funcionários para novas funções na era da IA, garantindo que a transição para a automação seja justa e equitativa.


Na academia, é essencial conduzir pesquisas multidisciplinares que explorem não apenas as capacidades técnicas da IA, mas também suas implicações éticas, sociais e econômicas. Deve-se promover a colaboração entre diferentes disciplinas para abordar os desafios complexos associados à IA e criar programas educacionais que preparem os estudantes para o futuro digital, incluindo cursos sobre IA, ética, segurança de dados e privacidade. Garantir que as descobertas de pesquisas sejam acessíveis ao público e possam informar políticas públicas e práticas empresariais é igualmente importante, assim como participar de parcerias que acelerem a inovação e a aplicação de IA para resolver desafios globais.


Para a sociedade civil, é fundamental promover a alfabetização digital, desenvolvendo e implementando programas comunitários que aumentem a conscientização sobre a IA e capacitem indivíduos a usar tecnologias digitais de forma segura e eficaz. Além disso, deve-se exigir transparência e responsabilidade de governos e empresas em suas práticas de coleta e uso de dados, participando ativamente do debate sobre o uso ético e responsável da IA. A sociedade civil deve também contribuir com perspectivas diversas, assegurando que as políticas e práticas de IA considerem os interesses e preocupações de todas as comunidades. Por fim, trabalhar para garantir que todas as pessoas, independentemente de sua localização ou situação econômica, tenham acesso às tecnologias necessárias para participar plenamente da economia digital é crucial para promover a inclusão digital e reduzir a divisão digital global.


6. Conclusão


Ao longo deste artigo, exploramos como as políticas públicas orientadas por missões, conforme delineadas por Mariana Mazzucato em "Missão Economia", podem ser aplicadas para enfrentar desafios globais utilizando a inteligência artificial (IA). Discutimos o potencial transformador da IA em setores cruciais como saúde, educação e sustentabilidade ambiental, destacando como a IA pode proporcionar diagnósticos médicos precisos, aprendizagem personalizada e soluções sustentáveis para a crise climática. Também abordamos os desafios éticos e a necessidade de políticas públicas robustas e coordenadas para garantir que a IA seja utilizada de maneira ética e inclusiva.


Os governos devem liderar a criação de políticas públicas que incentivem a pesquisa e o desenvolvimento de IA com foco em resolver desafios globais. Isso inclui fornecer financiamento adequado para projetos de IA que tenham um impacto social positivo e estabelecer regulamentações claras sobre a coleta, armazenamento e uso de dados pessoais para garantir privacidade e segurança. Além disso, é fundamental investir em programas de educação e requalificação profissional para preparar a força de trabalho para a economia digital. Promover a inclusão digital, garantindo acesso universal à tecnologia e à internet, especialmente em regiões desfavorecidas, é outra prioridade essencial.


Ao adotar medidas concretas, podemos garantir que a IA não apenas impulsione a inovação, mas também promova a justiça, a sustentabilidade e a prosperidade para todos. Este é o momento de agir, de transformar desafios em oportunidades e de garantir que a revolução da IA seja uma força positiva para a humanidade. Governos, empresas, academia e sociedade civil devem trabalhar juntos em missões ambiciosas que utilizem a IA para resolver problemas globais. Inspirados pelos princípios de missões defendidos por Mazzucato, podemos construir um futuro onde a IA beneficia a todos, contribuindo para um mundo mais equitativo e sustentável. A colaboração e o compromisso de todos os setores da sociedade são essenciais para alcançar esse objetivo.


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