top of page
  • diogoalbuquerquebs

Precisamos mesmo regulamentar a Inteligência Artificial na Educação?




Por Diogo Ferreira



Há alguns dias eu recebi um e-mail com o seguinte questionamento "Existe alguma regulamentação interna para a utilização da IA no órgão onde atuam?" Essa pergunta me fez refletir, será que precisamos mesmo regulamenar o uso da inteligência artificial na educação? Mais especificamente, na educação corporativa dos órgãos públicos?


Sabemos que a revolução da Inteligência Artificial (IA) já está em pleno curso, transformando diversos setores da sociedade. Na educação, as tecnologias de IA estão sendo amplamente exploradas, trazendo tanto oportunidades quanto desafios. Diante desse cenário, já existem muitos países buscando estabelecer regulamentações e orientações para nortear o uso responsável dessas ferramentas.


De acordo com o relatório da OCDE sobre "Inteligência Artificial e o Futuro da Educação", diversas nações estão adotando medidas para promover o uso ético e responsável da IA na educação. Por exemplo, o Reino Unido lançou um código de prática para a adoção de tecnologias de aprendizagem digital baseadas em IA, enfatizando a proteção de dados e a transparência dos sistemas. Já a Finlândia desenvolveu diretrizes éticas para a utilização da IA na educação básica (OCDE, 2023).


No entanto, ao invés de focar apenas em regulamentações restritivas, especialmente no âmbito da educação corporativa do setor público, é crucial reconhecer os benefícios transformadores que a IA pode proporcionar e incentivar seu uso responsável e eficiente.


A educação corporativa lida com um público-alvo específico: adultos profissionais que buscam adquirir ou aprimorar competências necessárias para alcançar os objetivos das organizações públicas. Diferentemente da educação formal de crianças e adolescentes, esse público já deveria estar preocupado com o autodesenvolvimento e a capacitação contínua, vista como um fator de motivação intrínseca (Chun et al., 2010).


Nesse contexto, as tecnologias de IA podem desempenhar um papel fundamental, auxiliando na personalização do aprendizado, fornecendo feedback instantâneo, identificando lacunas de conhecimento e adaptando o conteúdo às necessidades individuais dos estudantes. Além disso, a IA pode simplificar processos administrativos, otimizar a criação de materiais didáticos e fornecer insights valiosos sobre o desempenho e o progresso dos alunos (Popenici & Kerr, 2017).


No entanto, para usufruir plenamente desses benefícios, é essencial capacitar e treinar os profissionais responsáveis pela formação dos servidores públicos na utilização eficiente dessas ferramentas. Ao invés de impor restrições desnecessárias, os esforços devem se concentrar em desmistificar a IA, atiçar a curiosidade e incentivar sua adoção consciente.


Isso não significa ignorar os desafios éticos e legais associados à IA na educação. A proteção de dados, o combate a vieses e discriminações, e a preservação dos direitos autorais de materiais didáticos são preocupações legítimas que merecem atenção e supervisão contínua (Battiston & Selloni, 2020).


Na minha opinião, a inteligência artificial mais do que regulamentação precisa de exploradores audaciosos. Assim como os grandes navegadores do passado precisavam de coragem e visão para desbravar novos territórios e expandir os horizontes do conhecimento humano, a IA requer profissionais dispostos a aventurar-se em terrenos desconhecidos e moldar essa tecnologia de maneira ética e responsável.


Regulamentações excessivas seriam como amarras restritivas demais, impedindo esses exploradores de avançar com a ousadia necessária para desvendar todo o potencial transformador da IA. Em vez disso, precisamos de mentes visionárias, dispostas a enfrentar desafios e riscos calculados em busca de novos avanços que possam beneficiar a sociedade.


Esses exploradores da IA serão responsáveis por traçar rotas inovadoras, mapeando aplicações revolucionárias que possam melhorar nossa qualidade de vida, impulsionar a economia e resolver problemas complexos. Eles deverão ser corajosos, adaptáveis e comprometidos com a jornada de descoberta, navegando pelos mares revoltos da ética e da responsabilidade, sempre guiados pela bússola dos valores humanos.


Assim como os grandes navegadores do passado, esses exploradores da IA enfrentarão ventos contrários, tempestades de dúvidas e escolhas morais desafiadoras. No entanto, é através de sua perseverança, curiosidade insaciável e compromisso com o progresso que poderemos expandir as fronteiras do conhecimento e construir um futuro mais promissor para as gerações vindouras.


Referências:


BATTISTON, G.; SELLONI, D. Anthropologists as inoculators? exploring the malleability of anthropological critique for behaviour change programmes. In: KOSKINEN, I.; WHYTE, J. (Ed.). Desis Philosophy Talk: Institutional Encounters. Helsinki: Aalto University, 2020. p. 8-21.


CHUN, J. U. et al. Employee training attitudes and perceptions: implications for motivation in learning organizations. International Journal of Education and Information Technologies, v. 4, n. 1, p. 1-12, 2010.


OECD (2023), Inteligência Artificial e o Futuro da Educação: Políticas para antecipar a transformação na educação e na aprendizagem, OECD Publishing, Paris. Disponível em: <https://www.oecd-ilibrary.org/sites/2a73a245-en/index.html?itemId=/content/component/2a73a245-en>. Acesso em: 3 abr. 2024.


POPENICI, S.; KERR, S. Exploring the impact of artificial intelligence on teaching and learning in higher education. Research and Practice in Technology Enhanced Learning, v. 12, n. 1, p. 1-13, 2017.

8 views0 comments

Comments


bottom of page